A Subversão Sublime.

Olá a todos! 🙂 É muito bom estar escrevendo novamente por aqui depois de um longo, longo e longo tempo, haha! Hoje, quero compartilhar com vocês um pouco sobre o conceito que se tornou uma espécie de mantra interno para nós no The Ugly Lab“A Subversão Sublime”.

Essa frase foi criada e refinada por nossa designer chutadora de bundas, Maria Solidade, que trouxe uma definição conceitual e interpretativa da mentalidade e expressão do The Ugly Lab.

A definição foi baseada em uma pesquisa abrangente realizada com nossa comunidade no ano de 2022. Nosso objetivo era mergulhar profundamente e obter o máximo de informações possível para que todos na organização pudessem compreender as múltiplas camadas de significado e características que a marca do Laboratório Feio possui, indo além de nossa própria percepção interna [como nossos achismos, emoções, sensações e estados de espírito] e buscando uma visão “externa”, mais ampla.

Durante a pesquisa, muitos dos membros compartilharam palavras-chave e associações que fazem parte, de acordo com eles, do universo da nossa marca. Essas palavras estavam relacionadas a conceitos como mistério, inquietação, fetichismo, rebeldia, intensidade e subversão. Maria foi capaz de costurar e conectar esses pontos soltos, dando uma definição mais ampla e agregando valor à nossa expressão. Ela identificou, de forma clara, a dicotomia existente na personalidade da marca, e que não é vista por nós ou pela comunidade como algo que enfraqueça a imagem a ser construída daqui em diante. Basicamente, temos a separação de duas ideias, conceitos e características opostas, algo como, o ato de jogar um coquetel molotov e contemplar a beleza do circo pegar fogo, sacou? Você está ali, subvertendo uma estrutura limitante, verticalizada, mas ao mesmo tempo consegue enxergar o que há de sublime nessa quebra.

Criado toscamente no Midjourney 🙂

Utilizamos a palavra sublime, pois ela carrega uma qualidade estética mas também filosófica, existe o impacto em termos de beleza, mas também indica à experiência humana diante do ilimitado, do infinito ou do desconhecido.

Fiz essa “mini contextualização” de ponto de partida, pois meu objetivo aqui é explorar com cuidado a mentalidade subversiva no processo criativo, em especial a que carrego comigo e que busco incentivar em sala de aula, no dia a dia do Laboratório Feio e em outras áreas da minha vida.

Essa tal subversão sublime é relevante porque desafia as normas estabelecidas, questiona as estruturas de poder e busca criar alternativas e possibilidades mais inovadoras. Ela mata na porrada o status quo, permitindo uma análise crítica das práticas e instituições existentes [principalmente as que estão no poder, hehe]. Ao subverter as convenções e expectativas sociais, ela coloca em xeque as formas tradicionais de pensar e agir, estimulando a criatividade e a imaginação. Subverter, então, é o ato de encorajar a busca por novas perspectivas, ideias e soluções, rompendo com as estruturas limitantes e, por isso, ela é uma das bases de sustentação de como encaramos os desafios mais doidos no The Ugly Lab.

Dado o tamanho um pouco maior do que de costume deste conteúdo, decidi dividi-lo em tópicos. Essa estrutura tem como intenção facilitar sua exploração em um dos meus temas favoritos e que certamente está ganhando cada vez mais destaque no mundo das marcas.

Conceitos-chave e o buraco da fechadura.

Eu poderia começar esse bloco de definições citando diversos autores e autoras, mas tive que escolher um ser humaninho em especial como ponto de partida. Não pensei em muitos critérios para essa seleção, foi quase como escolher o Pokémon principal para iniciar a nossa jornada. Mas de verdade, bem verdadeira, o mais importante foi encontrar um nome que, durante a vida, discutiu sobre o poder e suas formas de operação. Sim, o poder! Aquela pecinha mágica que rege os nossos dias e que todo mundo quer ou acha que tem.

O escolhido foi Charmander… ops! Michel Foucault [pronúncia-se Michel Fucô]. Um dos autores mais influentes quando se trata de abrir discussões sobre o poder e como ele pode ser subvertido por meio da resistência e da criação de espaços alternativos. Esse cara foi um renomado filósofo, historiador e teórico social francês. Suas obras abrangem uma ampla gama de tópicos, desde filosofia da história até questões políticas e sexualidade.

Mas o que ele realmente disse sobre esse tema? Foucault argumentou que o poder não está simplesmente nas mãos de indivíduos ou instituições específicas, mas é uma rede complexa e difusa que permeia todas as esferas da vida social. Ele também analisou como o poder opera em diversas instituições, como prisões, hospitais, escolas e até mesmo em nossas interações diárias [Gente, tudo envolve poder, TUDO! Anotem aí.].

O mais fascinante é que ele questiona a concepção convencional do poder como mera repressão e dominação, propondo uma visão alternativa em que o poder pode ser produtivo e se manifestar de múltiplas formas. E aí entra o conceito de “microfísica do poder”, que destaca que o poder não é exercido exclusivamente por autoridades, mas permeia as relações sociais.

“microfísica do poder” mostra que essa força de controle está presente em níveis microscópicos da vida cotidiana, em nossas interações diárias, nas instituições disciplinares e nos mecanismos de manipulação. Foucault argumentou que o poder se manifesta em relações assimétricas de conhecimento, controle de informações, categorização, classificação, normas de conduta e mecanismos de vigilância [Você pensou rapidinho na empresa em que trabalha, né? Hahaha!]. Essas práticas sutis e disseminadas de poder, segundo ele, ajudam a manter estruturas sociais e hierarquias verticalizadas sistematizadas.

Ok, Daniel, e onde entra a subversão nisso tudo? Bem, Foucault também destacou a capacidade de resistência e subversão em relação ao poder. Ele argumentava que a resistência não é necessariamente um confronto direto, mas sim um processo contínuo no qual as pessoas desafiam as normas, os discursos e as estruturas de poder existentes.

Ao invés de buscar uma revolução baseada na violência, chute na costela, ou queima quengaral, ele defendia a criação de espaços alternativos e a adoção de táticas de resistência que minassem o poder estabelecido. Esses espaços alternativos podem ser entendidos como “contrapúblicos”, onde grupos marginalizados encontram formas de expressão e solidariedade, construindo suas próprias narrativas e práticas. A criação desses espaços pode ser vista como uma forma de subversão.

Além disso, ele acreditava que a resistência e a subversão podem ocorrer em diversos níveis, do individual ao coletivo, e podem se manifestar de várias maneiras, como através da cultura, do discurso, da sexualidade e da própria identidade.

Foucault nos convida a repensar as relações de poder e a explorar estratégias de resistência e subversão que não apenas desafiem as estruturas existentes, mas também abram caminho para novas formas de vida e organização social. Ele nos faz refletir sobre o poder como uma construção social e nos mostra que a resistência é a chama indispensável na busca por transformação e libertação.

A subversão só existe se há poder e controle, aliás, tem uma frase que gosto muito do autor do livro “A empresa Conectada”Dave Gray, que é muito mais legal:

A empresa Conectada — Dave Gray

“Toda hierarquia formal sofre a resistência de uma organização informal que a subverte”.

Essa afirmação abre espaço para um outro tópico que também vai nos ajudar a contextualizar a subversão sublime: O Movimento Situacionista.

Em 1950 uma galera bem firmeza iniciou esse movimento artístico, político e teórico na Europa. Seus principais membros eram intelectuais, artistas e ativistas, incluindo Guy Debord [já já falarei mais sobre ele].

Movimento Situacionista tinha como objetivo principal a crítica radical da sociedade contemporânea, especialmente do capitalismo, da burocracia e da alienação, eles buscavam uma transformação completa da vida cotidiana, onde as pessoas pudessem viver de acordo com suas paixões, desejos e criatividade, em oposição às estruturas opressivas da sociedade. Os situacionistas acreditavam na importância da experiência direta e na construção de situações que promovessem a participação ativa e a reinvenção da vida social, além de enfatizar a subversão das normas e dos espaços estabelecidos, buscando criar momentos de ruptura que permitissem a reconfiguração da realidade. Apesar de terem tido uma existência relativamente curta, a influência dos situacionistas se estendeu além do movimento em si.

Uma das ideias-chave desse movimento era a crítica à sociedade do espetáculo, conceito desenvolvido por Guy Debord em seu livro “A Sociedade do Espetáculo”. De acordo com Debord, o espetáculo cria uma realidade mediada, na qual as relações sociais são mediadas por imagens e representações, em vez de serem experiências autênticas [alguma semelhança com os dias atuais? hehe]. Neste caso, a subversão consiste em desmascarar e desafiar essa cultura de consumo, revelando suas estratégias de controle e manipulação. Ele defendia a necessidade de criar situações de ruptura, nas quais as pessoas se libertassem da lógica do espetáculo e criassem momentos de verdadeira interação e autonomia. Essas situações podem incluir performances, intervenções urbanas, manifestações artísticas e outras práticas que promovam a interação direta entre as pessoas e a transformação das relações sociais. Em suma, Debord via a subversão como um meio de reivindicar a autonomia e a autenticidade.

Lembrando que outros movimentos, em diversos lugares do mundo, também se inspiraram nos Situacionistas [pesquisem sobre, por favor].

Alguns exemplos:

  • O movimento conhecido como “Black Mask” surgiu nos EUA, na década de 1960. Esse grupo adotou táticas situacionistas, como intervenções urbanas e a criação de situações disruptivas, combinando-as com uma abordagem anarquista e de luta pelos direitos civis.
  • No Japão, surgiram iniciativas relacionadas, como o grupo “Hi Red Center” e o coletivo “Gutai” na década de 1960. Eles exploraram a ideia de “arte da vida” e buscaram transformar o cotidiano através de ações que questionavam as estruturas sociais e culturais dominantes.
  • Na América Latina, surgiram movimentos e coletivos situacionistas, especialmente durante o período de “agitação política” e social nas décadas de 1960 e 1970. Grupos como o “Grupo Proceso Pentágono” no México e o “Grupo de Arte Callejero” na Argentina se envolveram em ações diretas e práticas subversivas, buscando desafiar o status quo e promover a conscientização política.

Bem, depois de trazer um pouco a visão do Foucault e do Movimento Situacionista pautada pelo pensamento de Debord, quero apresentar rapidamente outros autores e autoras que também abordam em suas obras a subversão e a quebra de hierarquias sistematizadas. Lembrando que há tantos outros nomes que merecem destaque, mas separei apenas alguns para vocês pesquisarem com mais calma, ok?

  • Judith Butler: Para ela, a subversão está intrinsecamente ligada à desconstrução das normas de gênero e à possibilidade de abrir espaço para a diversidade e a liberdade de expressão. É um processo político e coletivo que busca desafiar as estruturas de poder opressivas e criar uma sociedade mais inclusiva e igualitária.
  • Hakim Bey: Bey é considerado um pensador contracultural e suas ideias são frequentemente associadas ao anarquismo pós-moderno e ao anarquismo ontológico. Ele explora conceitos de subversão vinculados à autonomia, liberdade individual, resistência, imaginário e espaços temporários de autogestão.
  • Bell Hooks: Uma renomada teórica feminista e autora que examina questões de raça, classe e gênero em relação às estruturas de poder. Ela discute a subversão como uma forma de resistência política e como os indivíduos podem desafiar as normas opressivas.
  • Angela Davis: Filósofa, ativista e autora conhecida por seu trabalho na luta pelos direitos civis, justiça social e combate ao racismo. Ela aborda a subversão como uma forma de resistência política contra o racismo estrutural e as desigualdades sociais.
  • Rosi Braidotti: Braidotti é uma teórica pós-humanista que explora questões de identidade, e gênero. Ela discute a subversão como uma forma de superar as categorias normativas e promover uma nova forma de subjetividade.

Wow! São tantas pessoas incríveis que falam sobre esse tema, e olha que ainda nem comecei a me aprofundar de fato! hehe! Mas, olha, acredito que seja importante trazer as minhas definições sobre subversão para vocês. Lembrando que elas são a junção de diversas fontes, ideias, manifestações, experiências, bagagem vivencial e também das vozes da minha cabeça.

Criado toscamente no Midjourney 🙂

Dentro desta linha de raciocínio, podemos dividir subversão em 3 grandes atos:

  • O ato de desafiar estruturas de poder: A subversão é vista como um ato de resistência ou desafio às normas, valores e instituições que sustentam as estruturas de poder estabelecidas. Aqui a subversão é um gatilho questionador para a transformação social.
  • O ato de inverter padrões: A subversão é posta como a inversão ou deturpação de significados, ideias ou convenções existentes. Aqui a subversão é uma virada de chave que altera ou recria o significado das coisas, desafiando as interpretações convencionais.
  • O ato de desestabilizar ordens estabelecidas: A subversão é entendida como um processo de desorganização de sistemas, estruturas ou ordens estabelecidas. Aqui a subversão é o botão de gerar “bagunça”, uma força que abala as normas vigentes, buscando gerar mudanças significativas.

Acredito que seja importante trazer a principal diferença entre o primeiro e terceiro tópico para ficar um pouco mais claro para vocês! Para isso, precisamos compreender o nível de ação e intenção envolvido em cada ato.

No primeiro ato, a subversão é vista como uma ação de desafiar as estruturas de poder existentes. Nesse sentido, a subversão é mais ampla e abrange uma variedade de formas de resistência. Essa definição enfatiza a dimensão política e social da subversão.

Já no terceiro ato, a subversão é entendida como a desestabilização de sistemas. Aqui, o foco está mais na desorganização. A subversão busca desarticular, criar instabilidade ou perturbar as estruturas e instituições existentes. Essa definição enfatiza mais a dimensão da desordem.

Enquanto o primeiro tópico coloca mais ênfase na mudança social e na resistência política, o terceiro tópico destaca a geração de caos [dedo no cu e gritaria, sabe?] como uma forma de subversão. Ambas as perspectivas refletem diferentes abordagens para desafiar as normas, mas com um foco ligeiramente diferente.

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Separei alguns exemplos [neste exato momento escrevo sob efeito de vinho, sinto muito por qualquer erro de português, ou da vida, sei lá, haha]:

Subversão como o ato de desafiar estruturas de poder:

  • O Movimento pelos Direitos Civis dos Estados Unidos na década de 1960 é um exemplo interessante. Esse movimento desafiou abertamente as estruturas de poder existentes que perpetuavam a segregação racial e a discriminação. Através de protestos e marchas, os ativistas buscavam a igualdade de direitos para todos, independentemente de sua raça. Essa luta desafiou a ordem social estabelecida e levou a mudanças significativas na legislação e na consciência pública.
  • Um exemplo brasileiro desse tipo de ato [além de todas as tretas durante a ditadura] é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra [MST]. Fundado em 1984, o MST busca confrontar as estruturas de poder relacionadas à concentração de terras no Brasil. O movimento organiza ocupações de terras improdutivas, demanda a reforma agrária e luta por melhores condições de vida e trabalho para os trabalhadores rurais. Ao desafiar a estrutura fundiária existente no Brasil e buscar uma distribuição mais equitativa da terra, o MST confronta abertamente os interesses de latifundiários e elites econômicas.

Subversão como o ato de inverter padrões:

  • Um exemplo que gosto bastante de discutir é a subversão encontrada no movimento feminista. O feminismo tem desafiado padrões tradicionais de gênero e papéis de poder ao longo da história. Como as sufragistas que lutaram pelo direito das mulheres de votar, desafiando a ideia de que apenas os homens poderiam participar das decisões políticas. Mais recentemente, o movimento #MeToo deu visibilidade às experiências de assédio e abuso sexual, desafiando a normalização dessas situações e promovendo uma mudança cultural em relação ao tratamento das mulheres na sociedade.
  • Já no contexto da cultura LGBTQIAP+, as drag queens são um exemplo poderoso de subversão como inversão de padrões. Elas recriam as normas de gênero e de identidade, utilizando roupas, maquiagem e performances para desafiar as expectativas convencionais de feminilidade e masculinidade.
  • No cenário da moda e da publicidade [olha aí a sociedade do espetáculo que comentei anteriormente, hehe], diversos movimentos têm surgido para subverter os padrões tradicionais de beleza e desafiar os estereótipos de corpo impostos pela sociedade. Modelos que fogem dos padrões convencionais de magreza, alturas específicas ou características físicas colocadas como “ideais” têm conquistado espaço e representatividade. Esses movimentos buscam promover a aceitação do corpo em todas as suas formas e promover uma diversidade de belezas, invertendo os padrões restritivos e inatingíveis que historicamente dominaram a indústria da moda.

Subversão como o ato de desestabilizar ordens estabelecidas:

  • movimento punk tem uma pegada nesse gênero. Surgido na década de 1970, o punk desafiou [desafia ainda, vai haha, ele não morreu] às normas sociais e culturais estabelecidas. Com sua música rápida e crua, estilo de moda distinto e atitude anarquista, essa galera busca desestabilizar as estruturas de poder e as convenções sociais. Eles criticam abertamente o sistema, rejeitam a autoridade e promovem uma cultura de individualismo, liberdade e expressão pessoal.
  • Também posso citar o movimento Black Bloc que é comumente conhecido por sua atuação em protestos e manifestações, onde seus participantes se vestem de preto e utilizam táticas de ação direta para desafiar e desestabilizar a ordem estabelecida. O Black Bloc é caracterizado pela adoção de táticas como o uso de máscaras, capuzes e vestimentas pretas, além do uso de táticas de confronto e destruição de propriedades, como forma de expressar sua insatisfação com as estruturas de poder e com as políticas instituídas. Embora nem todos os participantes do movimento tenham os mesmos objetivos, alguns grupos têm sido associados a ações mais caóticas, buscando gerar desordem e confrontação com as forças de segurança durante os protestos.

Talvez o melhor exemplo do mundo ficcional para este ato é o personagem Coringa da DC Comics. Ele é um vilão icônico e representa o lado mais perturbador e desestabilizador da sociedade, destacando as fragilidades e contradições das instituições. Basicamente um agente do caos.

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E já que estamos falando de caos, que tal irmos para o mundo dos negócios? hehe!

A Subversão no mundo dos negócios.

No início deste artigo, abordei brevemente o conceito de poder. Nesse contexto, gostaria de discutir o papel da subversão no ambiente empresarial e sua relação com o consumismo. Embora a cultura empresarial tradicional seja frequentemente caracterizada por hierarquias rígidas, conformidade e busca desenfreada por lucros, há um crescente movimento de pensamento e práticas que buscam desafiar essas normas e criar abordagens mais inovadoras.

Vou destacar alguns exemplos concretos para ilustrar isso:

  • Empresas B [B Corps] e Empreendedorismo Social: As Empresas B são organizações certificadas que buscam equilibrar a busca pelo lucro com o impacto socioambiental positivo. Elas desafiam a abordagem tradicional de maximização de lucros, colocando o propósito social e ambiental no centro de suas operações.
  • Economia Compartilhada: A economia compartilhada é um conceito que subverte modelos tradicionais, enfatizando o compartilhamento de recursos e a colaboração em vez da posse individual. Empresas como Uber e Airbnb [caralho, fui clichê, né? haha pqp] são exemplos de negócios que desafiam as indústrias de mobilidade e hospedagem, respectivamente, através de modelos baseados no compartilhamento de recursos.
  • Liderança Criativa: Essa abordagem busca desafiar as hierarquias tradicionais e promover uma cultura de empoderamento, diversidade e colaboração nas organizações. Líderes com mentalidade criativa incentivam a criatividade e a subversão construtiva, capacitando suas equipes a questionar o status quo e desafiar as estruturas de poder.

Enquanto escrevo este artigo, compartilhei a ideia no meu perfil pessoal do Instagram e pedi às pessoas que me contassem o que a subversão significa para elas. Recebi cerca de 50 mensagens de pessoas com diferentes perspectivas. Foram respostas muito interessantes, e identifiquei alguns padrões intrigantes. No entanto, uma resposta em particular chamou minha atenção, compartilhada por Eliane Melo:

“Subversão é propor pautas que não são abertamente aceitas pela maioria, mas que frequentemente passam pela mente delas, com argumentos irrefutáveis. Por exemplo, uma semana de trabalho de apenas 4 dias.”

Semanas de trabalho de 4 dias é dahora né? hahaha! Eu gosto desse exemplo porque é uma ideia que tem ganhado bastante espaço e atenção devido à busca por uma maior qualidade de vida, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, e pela ótica da organização, aumento da produtividade no tempo dedicado ao trabalho. Lógico que temos que compreender que a implementação de um modelo de 4 dias de trabalho pode variar dependendo do setor e contexto, mas vejam como isso pode se tornar um padrão no futuro, né?

Tem uma marca americana que amo muito que começou a testar esse modelo em 2020: Shake Shack é uma rede de restaurantes fast food baseada nos Estados Unidos, ela anunciou que estava testando um modelo de trabalho de 4 dias em algumas de suas localidades, o objetivo era oferecer aos funcionários mais tempo para descansar e se recuperar, além de melhorar a retenção de funcionários e a satisfação no trabalho.

No Brasil há algumas marcas que têm experimentado esse modelo: Youse, Resultados Digitais, Natura e tantas outras. A tendência está crescendo em nosso país, à medida que as empresas reconhecem os benefícios de oferecer maior flexibilidade aos seus colaboradores. Não é algo novo, mas se pensarmos numa curva de adoção do modelo, em algum momento grande parte das organizações vão optar por essa mentalidade, a subversão do modelo tradicional de trabalho e carga horária começam a se tornar comum e acessível, praticamente criando um novo modelo de trabalho que futuramente será subvertido por uma nova mentalidade.

E vocês perceberão que esse assunto se conecta com outro que também merece atenção: a exploração do Lowsumerismo como uma forma de desafiar as práticas tradicionais de consumo. Se você nunca ouviu falar sobre isso, não se preocupe, estou aqui para ajudar!

O termo “Lowsumerismo” é uma combinação das palavras “low” [baixo] e “consumerismo” e refere-se a um movimento ou abordagem que busca uma redução consciente do consumo excessivo e uma mudança nos padrões de consumo. Está relacionado a um estilo de vida mais simplificado, onde as pessoas buscam atender suas necessidades básicas e encontrar satisfação em possuir menos bens materiais.

A ideia por trás desse movimento é questionar a cultura de consumo desenfreado e os valores associados a ela, como a busca constante por mais bens materiais, o desperdício e a exploração dos recursos naturais.

Criado toscamente no Midjourney 🙂

No caso do Lowsumerismo, os adeptos acreditam que o consumo excessivo não traz felicidade duradoura e, em vez disso, buscam alternativas mais conscientes. Para fornecer uma estrutura mais clara, vou destacar algumas características e princípios comumente associados ao lowsumerismo:

  • Consumo Consciente: Procuram fazer escolhas de consumo mais conscientes, considerando o impacto ambiental, social e econômico dos produtos que adquirem.
  • Simplificação da Vida: Reduzem o excesso de bens materiais, eliminando o desperdício e priorizando experiências e relacionamentos significativos.
  • Valorização da Qualidade em detrimento da quantidade: Valorizam a qualidade dos produtos, dando preferência a itens duráveis e de maior valor.
  • Economia Colaborativa: Incentivam a colaboração e o compartilhamento de recursos, buscando alternativas de economia compartilhada.
  • Sustentabilidade: Procuram minimizar o impacto ambiental do consumo, optando por produtos e práticas mais ecológicas, como o uso de energias renováveis e produtos reciclados.

É importante ressaltar que essa “contratendência” ganha força em alguns grupos comportamentais específicos, enquanto outros continuam a consumir de forma frenética! Um exemplo é o ressurgimento do consumo das marcas de moda rápida [fast fashion] pela geração Z.

Um artigo da Business Insider, escrito por Eve Upton-Clark, discute o paradoxo entre a preocupação dos membros da Geração Z com o meio ambiente e sua dependência da fast fashion. Embora a geração Z demonstre preferência por compras sustentáveis e uma mentalidade mais voltada para o Lowsumerismo, seus hábitos de consumo continuam contribuindo para uma crise global. Uma pesquisa apresentada no artigo revela que, apesar de valorizarem a sustentabilidade em detrimento de marcas famosas, um terço dos membros da Geração Z se descreve como viciado em fast fashion, e uma parcela significativa compra roupas que são usadas apenas uma vez.

Eve destaca o modelo de negócios prejudicial da moda rápida, que se concentra na produção em massa de roupas de baixa qualidade seguindo as tendências atuais [lembrando que a Shein é citada como uma das vilãs, hehe!]. O aumento das compras influenciadas por plataformas como o TikTok agrava o problema, pois cria um senso de urgência e estimula compras mais impulsivas. Eve também sugere que a redução da lacuna entre moda sustentável e acessível, juntamente com a promoção da conscientização e do pensamento crítico entre os consumidores da Geração Z, pode ajudar a abordar essa questão.

É importante entender que a ideia de subverter no mundo dos negócios é contínua, enquanto houver um modelo padronizado ou uma hierarquia sistematizada, a subversão surgirá de algum lugar. É um duelo de poder e subversão que se retroalimenta. Ela vai além da mera transgressão das regras existentes; é um convite para a reflexão crítica.

Agora vamos falar sobre outro caso interessante de subversão, principalmente no desenvolvimento da expressão de marca!

Fenty — Subversão através da inclusão.

Uma das coisas que mais gosto de fazer é procurar cases interessantes de marcas subversivas. É até difícil fazer uma seleção, porque gosto de todos eles, hehe, mas escolhi um exemplo não tão distante do nosso contexto que te ajudará a ter uma visão de “Subversion hunter” — um caçador de casos subversivos. Desculpe pelo nome ruim, não consegui pensar em algo melhor, HAHAHA.

Mas vamos lá…

Em um mundo mergulhado em desigualdades e crises, a subversão se ergue como uma força poderosa de resistência e transformação. Movimentos sociais emergem, artistas desafiam as normas, empreendedores redefinem os padrões do mercado e indivíduos repensam sua relação com o consumo.

Por isso eu trouxe alguém que representa isso da melhor forma possível: Rihanna e suas iniciativas.

Fenty Beauty

Fenty Beauty: O despertar revolucionário ocorre com o lançamento, em 2017, da Fenty Beauty, a marca de cosméticos criada por Rihanna. Sua arma de subversão? A diversidade e a representatividade. A Fenty Beauty ousa ao oferecer uma gama inigualável de tons de base, abraçando a riqueza de todas as tonalidades de pele. Onde outras marcas falharam, ela fez acontecer, desencadeando uma revolução que obrigou a indústria a se adaptar. Mas não para por aí: suas campanhas publicitárias desafiam os padrões estabelecidos, celebrando a diversidade de corpos, idades e etnias. A Fenty Beauty é mais do que uma marca de cosméticos, é uma plataforma de empoderamento e inclusão.

Savage X Fenty

Savage X Fenty: Em 2018, nasce a Savage X Fenty, a marca de lingerie que desafia todas as expectativas, sem amarras e sem limites. Em suas campanhas ousadas, modelos com diferentes origens étnicas e tipos de corpo desafiam os estereótipos, mostrando que a beleza não tem um molde único, dos tamanhos “XS” ao “3X”, todos são bem-vindos. A Savage X Fenty é o ícone da auto expressão e autoconfiança, rejeitando as regras da moda convencional.

Fenty Skin

Fenty Skin: Em 2020, a revolução se estende aos cuidados com a pele com o lançamento da Fenty Skin. Simplificando a rotina de beleza, a marca desafia a complexidade e entrega produtos eficazes, com fórmulas de alta qualidade. Todos os tipos de pele são abraçados, a diversidade é celebrada do começo ao fim. E, como se isso não bastasse, a Fenty Skin defende a sustentabilidade, utilizando embalagens recicláveis e adotando práticas amigas do meio ambiente. Uma marca que não apenas cuida da sua pele, mas também do nosso planeta.

Essas três marcas personificam a autenticidade e o empoderamento, inspirando as pessoas a abraçarem sua verdadeira essência. E isso é o que as torna tão especiais: a influência de Rihanna transcende palavras vazias, ela age, ela faz acontecer. Sua liderança genuína cria marcas com propósito e impacto. Para mim, é a arte pura e transformadora, um verdadeiro manifesto de subversão criativa que deixa sua marca indelével na indústria da beleza e da moda.

A Subversão no processo criativo.

A palavra “subversão” começou a ganhar destaque em contextos acadêmicos e literários no século XX, particularmente com o surgimento de teorias políticas e sociais críticas, como comentei anteriormente. Filósofos, sociólogos e teóricos passaram a explorar e discutir a subversão como um elemento de transformação social, buscando novas formas de organização e justiça.

No contexto criativo, a subversão pode ser entendida como uma abordagem que desafia as normas criativas estabelecidas, rompendo processos e explorando novas possibilidades para geração de ideias. É uma forma de pensar e agir de maneira contrária.

Gosto muito de trazer o Banksy como exemplo disso! Para quem não lembra desse cara, ele é um famoso artista de rua e ativista anônimo cujo trabalho é conhecido por sua pegada subversiva. Suas obras abordam questões sociais e políticas de forma irônica e provocativa, reconfigurando o espaço público. Inclusive me inspiro bastante em suas artes para pensar em algo visual para o The Ugly Lab e, particularmente, tenho uma teoria que o Banksy não é uma pessoa, mas um grupo de pessoas, mas posso falar sobre isso em outro momento, haha.

Outro exemplo relevante é Austin Kleon, um escritor conhecido por seus livros “Roube como um Artista” e “Mostre seu Trabalho!”. Suas obras exploram o conceito de roubar ideias e influências de outros artistas como uma forma de subversão criativa. Embora suas obras infelizmente sejam usadas l-i-t-e-r-a-l-m-e-n-t-e por muitos profissionais [olha o plágio aí minha gente], elas podem funcionar como uma maneira de questionar as convenções e impulsionar a criatividade.

Vale ressaltar que a subversão no processo criativo não se limita apenas ao campo da arte, mas pode ser aplicada em diversos aspectos da vida cotidiana, como negócios, ciência, tecnologia e outras áreas. A criatividade permeia tudo ao nosso redor e não devemos esquecer disso!

Ao adotar abordagens [atos] de desafio, inversão ou desestabilização, pessoas com mentalidade estratégica e criativa exploram novos caminhos, quebram regras e questionam suposições. Essas atitudes podem levar à descoberta de novos universos conceituais, múltiplas soluções criativas e novas perspectivas sobre um mesmo tema.

Isso pode acontecer de várias maneiras:

  • Combinações de ideias aparentemente opostas: Essa abordagem ocorre quando se combinam ideias ou conceitos que normalmente são considerados opostos ou incompatíveis. Resulta em novas abordagens, soluções criativas e perspectivas inesperadas.
  • Quebra de padrões previsíveis: Aqui, o objetivo é desafiar padrões estabelecidos, buscando alternativas originais. Um exemplo notável é o movimento artístico do cubismo, liderado por Pablo Picasso e Georges Braque. Eles quebraram os padrões tradicionais de representação da forma e da perspectiva, fragmentando objetos em múltiplos ângulos e planos, uma abordagem revolucionária à representação visual na época.
  • Exploração de novos materiais e/ou tecnologias: A subversão ocorre ao explorar materiais ou tecnologias de forma inovadora e não convencional, rompendo com os usos tradicionais. Um exemplo marcante é o trabalho do arquiteto Frank Gehry, conhecido por suas estruturas arquitetônicas de formas orgânicas e esculturais. Ele utiliza materiais como titânio e vidro laminado de maneiras não convencionais, desafiando as expectativas e criando edifícios icônicos, como o Museu Guggenheim em Bilbao, Espanha.

Independentemente da abordagem escolhida, o objetivo é romper com o convencional e buscar algo diferente, surpreendente e, muitas vezes, provocativo, desde que seja capaz de ajudar a resolver desafios reais, com base em necessidades básicas humanas, culturais e sociais. É fundamental ressaltar que a subversão no processo criativo não é um ato de rebeldia sem propósito. Ela visa desafiar estruturas existentes para abrir novas possibilidades, como um chute na porta. No entanto, é importante reconhecer que nem toda forma de subversão é positiva para todos. Esta é a parte mais crucial: a subversão cria mudanças para quem? Quais são os impactos reais que ela pode causar? Em algum momento estamos respeitando limites éticos, legais e sociais? Estamos pensando no bem comum?

Ao explorar as diferentes áreas em que a subversão se manifesta, desde as relações de poder até a criatividade e os negócios, podemos compreender sua importância na construção de um mundo mais justo, inclusivo e progressista. Ao desafiar as normas estabelecidas, a subversão nos convida a reinventar o presente e repensar os futuros.

Não há mudança sem subversão, mas somos totalmente responsáveis pelas mudanças que desejamos criar.

E aproveitando o espaço, dia 07/08/2023 vai rolar uma palestra/mini aulona sobre tuuudo isso e mais um pouco! Para mais informações: A Baderna dos Inadequados: A Subversão como mentalidade criativa

Written by Daniel Padilha: strategist • professor • unlocker