A Subversão Sublime. Copy 8

Olá a todos! 🙂 É muito bom estar escrevendo novamente por aqui depois de um longo, longo e longo tempo, haha! Hoje, quero compartilhar com vocês um pouco sobre o conceito que se tornou uma espécie de mantra interno para nós no The Ugly Lab: “A Subversão Sublime”.
Essa frase foi criada e refinada por nossa designer chutadora de bundas, Maria Solidade, que trouxe uma definição conceitual e interpretativa da mentalidade e expressão do The Ugly Lab.
A definição foi baseada em uma pesquisa abrangente realizada com nossa comunidade no ano de 2022. Nosso objetivo era mergulhar profundamente e obter o máximo de informações possível para que todos na organização pudessem compreender as múltiplas camadas de significado e características que a marca do Laboratório Feio possui, indo além de nossa própria percepção interna [como nossos achismos, emoções, sensações e estados de espírito] e buscando uma visão “externa”, mais ampla.
Durante a pesquisa, muitos dos membros compartilharam palavras-chave e associações que fazem parte, de acordo com eles, do universo da nossa marca. Essas palavras estavam relacionadas a conceitos como mistério, inquietação, fetichismo, rebeldia, intensidade e subversão. Maria foi capaz de costurar e conectar esses pontos soltos, dando uma definição mais ampla e agregando valor à nossa expressão. Ela identificou, de forma clara, a dicotomia existente na personalidade da marca, e que não é vista por nós ou pela comunidade como algo que enfraqueça a imagem a ser construída daqui em diante. Basicamente, temos a separação de duas ideias, conceitos e características opostas, algo como, o ato de jogar um coquetel molotov e contemplar a beleza do circo pegar fogo, sacou? Você está ali, subvertendo uma estrutura limitante, verticalizada, mas ao mesmo tempo consegue enxergar o que há de sublime nessa quebra.
Utilizamos a palavra sublime, pois ela carrega uma qualidade estética mas também filosófica, existe o impacto em termos de beleza, mas também indica à experiência humana diante do ilimitado, do infinito ou do desconhecido.
Fiz essa “mini contextualização” de ponto de partida, pois meu objetivo aqui é explorar com cuidado a mentalidade subversiva no processo criativo, em especial a que carrego comigo e que busco incentivar em sala de aula, no dia a dia do Laboratório Feio e em outras áreas da minha vida.
Essa tal subversão sublime é relevante porque desafia as normas estabelecidas, questiona as estruturas de poder e busca criar alternativas e possibilidades mais inovadoras. Ela mata na porrada o status quo, permitindo uma análise crítica das práticas e instituições existentes [principalmente as que estão no poder, hehe]. Ao subverter as convenções e expectativas sociais, ela coloca em xeque as formas tradicionais de pensar e agir, estimulando a criatividade e a imaginação. Subverter, então, é o ato de encorajar a busca por novas perspectivas, ideias e soluções, rompendo com as estruturas limitantes e, por isso, ela é uma das bases de sustentação de como encaramos os desafios mais doidos no The Ugly Lab.
Dado o tamanho um pouco maior do que de costume deste conteúdo, decidi dividi-lo em tópicos. Essa estrutura tem como intenção facilitar sua exploração em um dos meus temas favoritos e que certamente está ganhando cada vez mais destaque no mundo das marcas.
Conceitos-chave e o buraco da fechadura.
Eu poderia começar esse bloco de definições citando diversos autores e autoras, mas tive que escolher um ser humaninho em especial como ponto de partida. Não pensei em muitos critérios para essa seleção, foi quase como escolher o Pokémon principal para iniciar a nossa jornada. Mas de verdade, bem verdadeira, o mais importante foi encontrar um nome que, durante a vida, discutiu sobre o poder e suas formas de operação. Sim, o poder! Aquela pecinha mágica que rege os nossos dias e que todo mundo quer ou acha que tem.

O escolhido foi Charmander… ops! Michel Foucault [pronúncia-se Michel Fucô]. Um dos autores mais influentes quando se trata de abrir discussões sobre o poder e como ele pode ser subvertido por meio da resistência e da criação de espaços alternativos. Esse cara foi um renomado filósofo, historiador e teórico social francês. Suas obras abrangem uma ampla gama de tópicos, desde filosofia da história até questões políticas e sexualidade.
Mas o que ele realmente disse sobre esse tema? Foucault argumentou que o poder não está simplesmente nas mãos de indivíduos ou instituições específicas, mas é uma rede complexa e difusa que permeia todas as esferas da vida social. Ele também analisou como o poder opera em diversas instituições, como prisões, hospitais, escolas e até mesmo em nossas interações diárias [Gente, tudo envolve poder, TUDO! Anotem aí.].
O mais fascinante é que ele questiona a concepção convencional do poder como mera repressão e dominação, propondo uma visão alternativa em que o poder pode ser produtivo e se manifestar de múltiplas formas. E aí entra o conceito de “microfísica do poder”, que destaca que o poder não é exercido exclusivamente por autoridades, mas permeia as relações sociais.
A “microfísica do poder” mostra que essa força de controle está presente em níveis microscópicos da vida cotidiana, em nossas interações diárias, nas instituições disciplinares e nos mecanismos de manipulação. Foucault argumentou que o poder se manifesta em relações assimétricas de conhecimento, controle de informações, categorização, classificação, normas de conduta e mecanismos de vigilância [Você pensou rapidinho na empresa em que trabalha, né? Hahaha!]. Essas práticas sutis e disseminadas de poder, segundo ele, ajudam a manter estruturas sociais e hierarquias verticalizadas sistematizadas.
Ok, Daniel, e onde entra a subversão nisso tudo? Bem, Foucault também destacou a capacidade de resistência e subversão em relação ao poder. Ele argumentava que a resistência não é necessariamente um confronto direto, mas sim um processo contínuo no qual as pessoas desafiam as normas, os discursos e as estruturas de poder existentes.
Ao invés de buscar uma revolução baseada na violência, chute na costela, ou queima quengaral, ele defendia a criação de espaços alternativos e a adoção de táticas de resistência que minassem o poder estabelecido. Esses espaços alternativos podem ser entendidos como “contrapúblicos”, onde grupos marginalizados encontram formas de expressão e solidariedade, construindo suas próprias narrativas e práticas. A criação desses espaços pode ser vista como uma forma de subversão.
Além disso, ele acreditava que a resistência e a subversão podem ocorrer em diversos níveis, do individual ao coletivo, e podem se manifestar de várias maneiras, como através da cultura, do discurso, da sexualidade e da própria identidade.
Foucault nos convida a repensar as relações de poder e a explorar estratégias de resistência e subversão que não apenas desafiem as estruturas existentes, mas também abram caminho para novas formas de vida e organização social. Ele nos faz refletir sobre o poder como uma construção social e nos mostra que a resistência é a chama indispensável na busca por transformação e libertação.
A subversão só existe se há poder e controle, aliás, tem uma frase que gosto muito do autor do livro “A empresa Conectada”, Dave Gray, que é muito mais legal:

“Toda hierarquia formal sofre a resistência de uma organização informal que a subverte”.
Essa afirmação abre espaço para um outro tópico que também vai nos ajudar a contextualizar a subversão sublime: O Movimento Situacionista.
O Movimento Situacionista tinha como objetivo principal a crítica radical da sociedade contemporânea, especialmente do capitalismo, da burocracia e da alienação, eles buscavam uma transformação completa da vida cotidiana, onde as pessoas pudessem viver de acordo com suas paixões, desejos e criatividade, em oposição às estruturas opressivas da sociedade. Os situacionistas acreditavam na importância da experiência direta e na construção de situações que promovessem a participação ativa e a reinvenção da vida social, além de enfatizar a subversão das normas e dos espaços estabelecidos, buscando criar momentos de ruptura que permitissem a reconfiguração da realidade. Apesar de terem tido uma existência relativamente curta, a influência dos situacionistas se estendeu além do movimento em si.
Uma das ideias-chave desse movimento era a crítica à sociedade do espetáculo, conceito desenvolvido por Guy Debord em seu livro “A Sociedade do Espetáculo”. De acordo com Debord, o espetáculo cria uma realidade mediada, na qual as relações sociais são mediadas por imagens e representações, em vez de serem experiências autênticas [alguma semelhança com os dias atuais? hehe]. Neste caso, a subversão consiste em desmascarar e desafiar essa cultura de consumo, revelando suas estratégias de controle e manipulação. Ele defendia a necessidade de criar situações de ruptura, nas quais as pessoas se libertassem da lógica do espetáculo e criassem momentos de verdadeira interação e autonomia. Essas situações podem incluir performances, intervenções urbanas, manifestações artísticas e outras práticas que promovam a interação direta entre as pessoas e a transformação das relações sociais. Em suma, Debord via a subversão como um meio de reivindicar a autonomia e a autenticidade.
Lembrando que outros movimentos, em diversos lugares do mundo, também se inspiraram nos Situacionistas [pesquisem sobre, por favor].
Alguns exemplos:
- O movimento conhecido como “Black Mask” surgiu nos EUA, na década de 1960. Esse grupo adotou táticas situacionistas, como intervenções urbanas e a criação de situações disruptivas, combinando-as com uma abordagem anarquista e de luta pelos direitos civis.
- No Japão, surgiram iniciativas relacionadas, como o grupo “Hi Red Center” e o coletivo “Gutai” na década de 1960. Eles exploraram a ideia de “arte da vida” e buscaram transformar o cotidiano através de ações que questionavam as estruturas sociais e culturais dominantes.
- Na América Latina, surgiram movimentos e coletivos situacionistas, especialmente durante o período de “agitação política” e social nas décadas de 1960 e 1970. Grupos como o “Grupo Proceso Pentágono” no México e o “Grupo de Arte Callejero” na Argentina se envolveram em ações diretas e práticas subversivas, buscando desafiar o status quo e promover a conscientização política.
Bem, depois de trazer um pouco a visão do Foucault e do Movimento Situacionista pautada pelo pensamento de Debord, quero apresentar rapidamente outros autores e autoras que também abordam em suas obras a subversão e a quebra de hierarquias sistematizadas. Lembrando que há tantos outros nomes que merecem destaque, mas separei apenas alguns para vocês pesquisarem com mais calma, ok?
- Judith Butler: Para ela, a subversão está intrinsecamente ligada à desconstrução das normas de gênero e à possibilidade de abrir espaço para a diversidade e a liberdade de expressão. É um processo político e coletivo que busca desafiar as estruturas de poder opressivas e criar uma sociedade mais inclusiva e igualitária.
- Hakim Bey: Bey é considerado um pensador contracultural e suas ideias são frequentemente associadas ao anarquismo pós-moderno e ao anarquismo ontológico. Ele explora conceitos de subversão vinculados à autonomia, liberdade individual, resistência, imaginário e espaços temporários de autogestão.
- Bell Hooks: Uma renomada teórica feminista e autora que examina questões de raça, classe e gênero em relação às estruturas de poder. Ela discute a subversão como uma forma de resistência política e como os indivíduos podem desafiar as normas opressivas.
- Angela Davis: Filósofa, ativista e autora conhecida por seu trabalho na luta pelos direitos civis, justiça social e combate ao racismo. Ela aborda a subversão como uma forma de resistência política contra o racismo estrutural e as desigualdades sociais.
- Rosi Braidotti: Braidotti é uma teórica pós-humanista que explora questões de identidade, e gênero. Ela discute a subversão como uma forma de superar as categorias normativas e promover uma nova forma de subjetividade.
Wow! São tantas pessoas incríveis que falam sobre esse tema, e olha que ainda nem comecei a me aprofundar de fato! hehe! Mas, olha, acredito que seja importante trazer as minhas definições sobre subversão para vocês. Lembrando que elas são a junção de diversas fontes, ideias, manifestações, experiências, bagagem vivencial e também das vozes da minha cabeça.

Dentro desta linha de raciocínio, podemos dividir subversão em 3 grandes atos:
- O ato de desafiar estruturas de poder: A subversão é vista como um ato de resistência ou desafio às normas, valores e instituições que sustentam as estruturas de poder estabelecidas. Aqui a subversão é um gatilho questionador para a transformação social.
- O ato de inverter padrões: A subversão é posta como a inversão ou deturpação de significados, ideias ou convenções existentes. Aqui a subversão é uma virada de chave que altera ou recria o significado das coisas, desafiando as interpretações convencionais.
- O ato de desestabilizar ordens estabelecidas: A subversão é entendida como um processo de desorganização de sistemas, estruturas ou ordens estabelecidas. Aqui a subversão é o botão de gerar “bagunça”, uma força que abala as normas vigentes, buscando gerar mudanças significativas.
Acredito que seja importante trazer a principal diferença entre o primeiro e terceiro tópico para ficar um pouco mais claro para vocês! Para isso, precisamos compreender o nível de ação e intenção envolvido em cada ato.
No primeiro ato, a subversão é vista como uma ação de desafiar as estruturas de poder existentes. Nesse sentido, a subversão é mais ampla e abrange uma variedade de formas de resistência. Essa definição enfatiza a dimensão política e social da subversão.
Já no terceiro ato, a subversão é entendida como a desestabilização de sistemas. Aqui, o foco está mais na desorganização. A subversão busca desarticular, criar instabilidade ou perturbar as estruturas e instituições existentes. Essa definição enfatiza mais a dimensão da desordem.
Enquanto o primeiro tópico coloca mais ênfase na mudança social e na resistência política, o terceiro tópico destaca a geração de caos [dedo no cu e gritaria, sabe?] como uma forma de subversão. Ambas as perspectivas refletem diferentes abordagens para desafiar as normas, mas com um foco ligeiramente diferente.

Separei alguns exemplos [neste exato momento escrevo sob efeito de vinho, sinto muito por qualquer erro de português, ou da vida, sei lá, haha]:
Subversão como o ato de desafiar estruturas de poder:
- O Movimento pelos Direitos Civis dos Estados Unidos na década de 1960 é um exemplo interessante. Esse movimento desafiou abertamente as estruturas de poder existentes que perpetuavam a segregação racial e a discriminação. Através de protestos e marchas, os ativistas buscavam a igualdade de direitos para todos, independentemente de sua raça. Essa luta desafiou a ordem social estabelecida e levou a mudanças significativas na legislação e na consciência pública.
- Um exemplo brasileiro desse tipo de ato [além de todas as tretas durante a ditadura] é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra [MST]. Fundado em 1984, o MST busca confrontar as estruturas de poder relacionadas à concentração de terras no Brasil. O movimento organiza ocupações de terras improdutivas, demanda a reforma agrária e luta por melhores condições de vida e trabalho para os trabalhadores rurais. Ao desafiar a estrutura fundiária existente no Brasil e buscar uma distribuição mais equitativa da terra, o MST confronta abertamente os interesses de latifundiários e elites econômicas.
Subversão como o ato de inverter padrões:
- Um exemplo que gosto bastante de discutir é a subversão encontrada no movimento feminista. O feminismo tem desafiado padrões tradicionais de gênero e papéis de poder ao longo da história. Como as sufragistas que lutaram pelo direito das mulheres de votar, desafiando a ideia de que apenas os homens poderiam participar das decisões políticas. Mais recentemente, o movimento #MeToo deu visibilidade às experiências de assédio e abuso sexual, desafiando a normalização dessas situações e promovendo uma mudança cultural em relação ao tratamento das mulheres na sociedade.
- Já no contexto da cultura LGBTQIAP+, as drag queens são um exemplo poderoso de subversão como inversão de padrões. Elas recriam as normas de gênero e de identidade, utilizando roupas, maquiagem e performances para desafiar as expectativas convencionais de feminilidade e masculinidade.
- No cenário da moda e da publicidade [olha aí a sociedade do espetáculo que comentei anteriormente, hehe], diversos movimentos têm surgido para subverter os padrões tradicionais de beleza e desafiar os estereótipos de corpo impostos pela sociedade. Modelos que fogem dos padrões convencionais de magreza, alturas específicas ou características físicas colocadas como “ideais” têm conquistado espaço e representatividade. Esses movimentos buscam promover a aceitação do corpo em todas as suas formas e promover uma diversidade de belezas, invertendo os padrões restritivos e inatingíveis que historicamente dominaram a indústria da moda.
Subversão como o ato de desestabilizar ordens estabelecidas:
- O movimento punk tem uma pegada nesse gênero. Surgido na década de 1970, o punk desafiou [desafia ainda, vai haha, ele não morreu] às normas sociais e culturais estabelecidas. Com sua música rápida e crua, estilo de moda distinto e atitude anarquista, essa galera busca desestabilizar as estruturas de poder e as convenções sociais. Eles criticam abertamente o sistema, rejeitam a autoridade e promovem uma cultura de individualismo, liberdade e expressão pessoal.
- Também posso citar o movimento Black Bloc que é comumente conhecido por sua atuação em protestos e manifestações, onde seus participantes se vestem de preto e utilizam táticas de ação direta para desafiar e desestabilizar a ordem estabelecida. O Black Bloc é caracterizado pela adoção de táticas como o uso de máscaras, capuzes e vestimentas pretas, além do uso de táticas de confronto e destruição de propriedades, como forma de expressar sua insatisfação com as estruturas de poder e com as políticas instituídas. Embora nem todos os participantes do movimento tenham os mesmos objetivos, alguns grupos têm sido associados a ações mais caóticas, buscando gerar desordem e confrontação com as forças de segurança durante os protestos.
Talvez o melhor exemplo do mundo ficcional para este ato é o personagem Coringa da DC Comics. Ele é um vilão icônico e representa o lado mais perturbador e desestabilizador da sociedade, destacando as fragilidades e contradições das instituições. Basicamente um agente do caos.

A Subversão no mundo dos negócios.
O escolhido foi Charmander… ops! Michel Foucault [pronúncia-se Michel Fucô]. Um dos autores mais influentes quando se trata de abrir discussões sobre o poder e como ele pode ser subvertido por meio da resistência e da criação de espaços alternativos. Esse cara foi um renomado filósofo, historiador e teórico social francês. Suas obras abrangem uma ampla gama de tópicos, desde filosofia da história até questões políticas e sexualidade.
