Existe um abismo entre nós humanos e os robôs?

Written by Maria Júlia Marques: Psychology student, curious about behavior skills, communication, work experience, fashion and branding.

Recentemente entrei em um debate sobre nossa atual preocupação com o desenvolvimento das novas tecnologias e qual o lugar delas perto das nossas atividades. Com a pandemia, podemos observar um processo catalisador nas mudanças e inovações tecnológicas assim como no mundo do trabalho.

Hoje com o desenvolvimento da Inteligência Artificial já se fala em robôs humanoides, que são capazes de reproduzir muitas capacidades parecidas com as nossas, especificamente em âmbito racional e ocupacional (relacionado às atividades manuais e diretas que desenvolvemos). Isso provoca grande ansiedade do que pode vir a ser, e quando pensamos em quais espaços essas tecnologias avançadas podem ocupar.

Alguns relatórios sobre Futuro do Trabalho já mostram que algumas profissões estão sofrendo grandes mudanças e transformações, e isso aumenta nosso grande medo da incerteza e substituição. Além disso, os desafios a serem alcançados ou solucionados serão de alta complexidade, envolvendo novas habilidades e competências a serem desenvolvidas.

Ainda há espaço para nós humanos? Quais espaços ainda são exclusivamente nossos?

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Ainda defendo a ideia de que a complexidade humana é grandiosa demais para ser completamente substituída, mesmo que exista a possibilidade de substituições de atividades operacionais e concretas, nossa capacidade de atingir uma consciência e interagir a nível social é ainda mais complexa do que qualquer raciocínio lógico.

Nosso comportamento e repertório de aprendizagem compreendem 3 grandes níveis de análise que elucidam essa complexidade. A nível filogenético, analisamos o histórico de aprendizagem da espécie humana, transmitido por gerações anteriores e grandes adaptações ao longo de anos; A nível Ontogenético, analisamos aspectos da história de vida de cada indivíduo, compreendendo aprendizados específicos a cada subjetividade e interação em particular, e por último a nível sociocultural podemos pensar em grandes influências externas que nos ensinam e podem até mesmo controlar os comportamentos.

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Isso envolve uma gama alta de variáveis que podem interferir em aspectos humanos e comportamentais, e é por isso que somos fruto de muitas questões, interações e especificidades e não apenas aspectos racionais e lógicos. Sendo assim, cada pessoa aprende, percebe o mundo e tem necessidades diferentes a serem supridas, o que dificulta encontrar respostas e regras que funcionem a nível global.

Alexandre Quaresma evidencia em seu artigo a complexidade da formação e conceituação de consciência em um paralelo com as atividades da Inteligência Artificial, e nele mostra como ainda temos grandes diferenciais que possibilitam um respiro esperançoso perto das atualizações tecnológicas.

Além disso, pensar em seres humanos é envolver todo o caos da afetividade que nos cerca. As emoções e a decodificação delas para nossas vidas e interações sociais é outro grande diferencial que faz de nós únicos e particulares. Uma das áreas que nos permite desenvolver e perceber esses aspectos é a construção e expressão pela Arte. Se relacionar, expressar, comunicar, responder e reagir, ainda são pontos que envolvem aspectos emocionais, e nisso, eu acredito ser um ponto forte a nosso favor.

A Arte sendo um campo afetivo e intuitivo é a oportunidade para desenvolver e praticar habilidades humanas que estejam relacionadas diretamente às emoções. Não fomos incentivados desde o início a aprender e desenvolver Arte, mas encontrar nela um novo espaço e oportunidade para se desenvolver pode ser uma alternativa.

Talvez, compreender as emoções e destacá-las nunca foi um ponto tão forte a ser discutido. Mas acredito que chegou a vez delas.

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A capacidade exclusivamente humana que acredito ser uma das maiores e mais potencializadoras é de ter a consciência de nossas ações, e aprender a coexistir entre razão e emoção. Agimos e reagimos no mundo por influência das duas grandes áreas, por mais difícil que seja, não seria esse o nosso grande diferencial?

Tomadas de decisões e resolução de problemáticas complexas e difíceis envolve também, o gerenciamento e manutenção das nossas emoções. Racionalizar por completo situações como essas, sem levar em conta nossa capacidade afetiva, nos faz “perder” a sensibilidade à alternativas e variáveis que influenciam nossas decisões e resoluções. Em resumo, agimos, decidimos, pensamos, comunicamos, comportamos de modo geral à partir da forma com que aprendemos a pensar e sentir de forma conjunta.

Por isso, nossas emoções e capacidades sensitivas, é nossa grande e difícil carta na manga rs.